Acontece que, agora nas minhas andanças obrigatórias por doença de familiar, em Lisboa - Madragoa, freguesia e paróquia de Santos-o-Velho, tenho o privilégio de ser conhecido do distinto jornalista e veterano cronista do “defunto” diário “A Capital”, dos meus tempos de trabalho na Repartição de Finanças no Barreiro (1972) e de “tropa” (1973/1975) que dá pelo nome de APPIO SOTTOMAYOR e que por mero acaso é irmão da D.ª Madalena - uma distintíssima e benemérita Senhora que há anos aportou ao Pico, cá desenvolvendo, entre algumas outras, virtuosa ação no Lar de Idosos da Madalena e agora vivendo na paroquial das Bandeiras – sendo certo que esse distinto jornalista olissiponado foi um destacado cronista – Memórias do Poço do Bispo – n’A Capital até ao último número editado, desse prestigiado diário alfacinha.
Ora o jornal Diário de Notícias de hoje, trata um tema muito interessante e que, de momento na capital lisboeta, trás à memória muito saudosismo, para mim e para tantos outros e que tem a ver com a demolição-requalificação do prédio do antigo cine-teatro Odeon, ali na Rua do Condes, que se encontra, há quase duas dezenas de anos desativado, imóvel esse que agora é apontado para mais um centro-comercial, igual a tantos outros existentes em Lisboa e respetiva área metropolitana…
SALÃO DO CINE-PICOENSE DE MANUEL ÁLVARO SIMAS - Fotografia gentilmente cedida por Ricardo Picanço
Claro que não me compete tecer opinião sobre esse assunto, mas é singular referir o que o distinto e veterano cronista lisboeta, perguntado, respondia ao DN: “Os cinemas eram também importantes em termos sociais? Por exemplo, na criação de um espírito de comunidade? - Era mais nos cinemas de bairro. As pessoas conheciam-se todas. Nos intervalos, as pessoas das filas da frente viravam-se para trás. Era como se fosse um convívio. Era uma altura em que televisão não havia. Não havia a série de distracções e de atracções que há agora. As pessoas que gostavam iam ao cinema. Os tempos mudam.” E rematava: ”Faz-me pena passar pelos lugares onde eram os cinemas e estarem lá outros edifícios ou então mesmo nada. Faz-me pena”. E por cá?
Pois é, para mim, naturalmente, também com pena, este caso fez-me reviver outros tempos – fins dos anos setenta – onde ainda existia um Salão de Cinema na vila de São Roque, aliás o único espaço edificado, digno desse nome na nossa ilha, fruto do empreendedorismo (como hoje se diz) desse saudoso amigo e empresário – idealista impenitente – que muito procurou contribuir para o progresso da sua terra (a): o Senhor Manuel Álvaro de Simas, o Senhor Magano, onde esse seu Cine-Picoense servia para todos os eventos socio-recreativo-culturais e até cívico-políticos da vila de São Roque do Pico – era então a verdadeira, solene e única Sala de Visitas da Vila de São Roque do Pico – e tanto assim foi que por ali se desenvolveram, para além das Sessões de Cinema, Bailes, Assaltos Carnavalescos, Sessões Culturais, Sessões Solenes ou históricas Assembleias Gerais de organizações sociorecreativas como essa da reorganização da Associação de Bombeiros Voluntários e essa outra de reanimação da Sociedade Filarmónica Liberdade do Cais; Sessões de Esclarecimento político-partidárias, Comícios políticos e afins. Por ali também passaram “conjuntos musicais amadores”, que deram brado nesses tempos de são convívio social, a par de nomes sonantes da política nacional: Sá Carneiro ou Jaime Gama e da política regional: Mota Amaral ou Martins Goulart, já não falando nos candidatos locais, nessa década de setenta, de todos os quadrantes políticos …
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Mas, um dia, a voracidade do pseudo-progresso não teve pejo em justificar a alienação, porventura familiarmente rentável, do referido imóvel, para outros fins - expansão do centro da vila integrando a alameda com a nova Esquadra da P.S.P. e o Edifício Polivalente para Serviços Públicos Municipais, Fiscais, Delegação Escolar, Segurança Social, CGD, Cartório e Notariado, Tribunal Judicial e afins. Terá sido uma excelente opção, (?!) ora hoje nem duvidamos, pois foi, significativamente um reconhecimento do fim do ciclo cinema-entretenimento, por troca pela TV, mas foi também o fim dum ciclo de convívio único - semanal, ou tri-semanal – “as pessoas que gostavam iam ao cinema”, como afirmava Appio Sottomayor.
Hoje, depois de algumas tentativas meritórias, diga-se, não há sessões de cinema, porque não há procura para tal, é verdade e os locais de convívio diversificaram-se mas não melhoraram, tendo em conta esse então reconhecido são convívio social.
Pior? Melhor? Nem uma coisa nem outra, apenas um sinal claro de que “os tempos mudam” e é mesmo assim… e temos de ir com os tempos.
(a) in http://www.bandasfilarmonicas.com/bandas.php?id=738 Ao longo dos anos, sucedem-se os edifícios para os ensaios da Filarmónica “Liberdade do Cais do Pico entre elas a casa de Manuel Álvaro de Simas, na Cova.
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